Mais um dia no Paraíso (Guto)
É um dia lindo, você acorda para trabalhar e inexoravelmente tem que pegar a sua condução cheia até o talo. As pessoas estão mal humoradas, por causa disso, elas xingam muito, elas são irracionais, dizem que a culpa é do motorista, que a culpa é sua por tocar nelas em um ônibus que está tão lotado que você mal consegue encher completamente os pulmões. Nessas horas o eu filosófico reprimido delas vem à tona, é ai que as maiores pérolas da privada são forjadas de mentes alimentadas exaustivamente por novelas da Globo, do SBT, do caralho, pelo jornal O Correio da Bahia, pela vida alheia, pela ignorância crônica, alienação sócio-cultural e religiosa e outras “cositas” mais, que irremediavelmente você vai encontrar num transporte coletivo abarrotado de gente às sete da manhã.
Penso em todas as vezes que eu fui mal criado com minha mãe, isso só para tentar aceitar tal castigo divino, penso que não fui um bom garoto, que papai Noel não vai passar lá em casa, e realmente ele não passou, termino por sentir muita raiva do Bom Velhinho. Entretanto, nem mesmo isso é o suficiente para impedir que uma enxurrada de asneiras penetre pelos meus tímpanos. Tento concentrar-me na sílaba sagrada, mas nem o OM consegue vencer tal vibração infame. São muitas vozes, vozes raivosas, cheias de ódio, ódio do mundo, ódio do motorista, de mim, da minha mãe (que nem está no ônibus) e acima de tudo, o que é óbvio, raiva suprema de si mesmo.
É lógico que o populacho acaba por projetar toda essa raiva sobre o motorista, sobre minha mãe, sobre o colega de viagem e sobre Saddan Hussen. Mas eles não têm a menor noção de que há um processo psicológico atuando por ai, na verdade a maioria deles (99 vírgula infinita dízima periódica) nem sabe que merda é um processo psicológico, além de que, os mesmo só tem uma vaga noção do nome de Freud porque era citado naquela merda de programa da Globo (já perceberam como eu amo a Rede “Grobo”, né?), sendo que Jung (quem?), deixa pra lá.
E assim o ônibus vai cruzando as ruas de Salvador, e à medida que o mesmo vai parando nos pontos de ônibus e mais pessoas tem a necessidade NORMAL de subir nesse purgatório matinal, a raiva e o ódio se solidificam mais ainda. Nessa altura do campeonato, as pessoas dos prefeitos, do governador do estado , do presidente e dos políticos em geral já se tornaram alvos de alguns.
O engraçado disso tudo (para não dizer REVOLTANTE) é que a população só se presta a discutir política (se é que posso chamar dessa forma) nessas horas, ou seja, permitam-me fazer uso dessa expressão, quando estão no CU DA COBRA. É fácil encontrarmos numa fila do SUS um revoltadinha mandando o pau no governo. Mas basta só “esses merda” saírem de lá e serem atendido, que essa laia abjeta rapidamente vai para casa para o conforto da Rede “Grobo”, do comodismo, da religião, do pastor, do padre pedófilo, da cachaça, do pagode acéfalo e de tudo que é a mais profunda alienação, na qual um camarada pode dar-se o luxo de se enfiar até o talo.
É assim que se processa a revolta ocorrida diariamente no buzão (meu purgatório pessoal). É a conhecida e milenar parábola da puta que casou com um cara que bate nela todos os dias. A puta promete que vai largar ele, mas já tem vinte anos que ela fala a mesma coisa, e as surras continuam comendo no centro, até que depois de quatro décadas de surras cotidianas a puta finalmente toma coragem, tem um derrame cerebral, morre e vai pro inferno com sua promessa de merda não cumprida. PRONTO CARALHO.
É a mesma coisa com o povão do buzú, eles são a puta que apanha mais não toma vergonha na cara, não se articula, não se instrui, não sai da maldita alienação social, não para de enaltecer gente medíocre e que não presta e não para de gastar energia em vão, brigando, chutando e xingando pelos motivos errados . E infelizmente (para eles, pelo menos) isso vai continuar acontecendo até o fim dos tempos. Ou até quando Jesus Cristo, Alá e Lord Voldemort voltarem de mãos dadas por sobre o arco-íris.
Até a Próxima.